quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Das experimentações de processo III
"Não esquece de aguar as plantas, a samambaia duas vezes por semana, as plantas de dentro três. O jardim deixa com a chuva. Se chover pede pro vizinho olhar a calha, porque eu acho que tá entupida, se tiver vai encharcar o teto e dar infiltração pela casa. O filtro da sua mãe já pode devolver, eu colei o velho com durepoxi e já da pra usar. Aproveita e cola o puxador da segunda gaveta, de tanto ele soltar, eu passei todas as coisas para a terceira gaveta, caso você não encontre o coador ele também tá lá. Aquele pó que você comprou realmente é bom, eu me enganei, pode cancelar a encomenda do café moído do sítio do seu tio. Vou levar as xícaras que ele me deu, mas deixo uma para você, não tem problema ficar com a coleção desfalcada, porque eu não quero receber visitas e também sei que você não tem muitos amigos e não vai precisar das xícaras, uma basta para você que é sozinha."
“Está tudo seguindo bem, não me esqueci da samambaia, nem do puxador da gaveta, a calha não tava entupida, mas o vizinho deu um jeito de nunca isso acontecer, a xícara bastou mesmo, nunca ninguém veio me visitar, se ao menos não tivesse cancelado o café do sitio do meu tio... Ah! Agora em casa tem dois filtros, porque minha mãe disse que não vem buscar. Se você voltar, não se esquece de dizer oi à samambaia, ela está fraquinha desde que você se foi. E traga também sua xícara para que eu te trate como alguém que vem me visitar. Esse recado vai ficar aqui na mesinha de entrada, no mesmo lugar que você me deixou a lista de recomendações. Leia... Não esquece!"
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Desse sonho todo
nossas pernas se encontraram,
andam dormindo juntas e felizes
num emaranhado só
de amor.
domingo, 11 de novembro de 2012
Das experimentações de processo II (canção I)
que o teu pranto já morreu
cante, dance e me chama
pra tecer um beijo teu
Canta, canta passarinho
as doçuras do luar
pra que eu fique assim pedindo
o teu sono à vigiar
Vem me diz, oh passarinho
como fazes sua cor
que de dia é de beleza
e de noite só de amor
Vai agora, passarinho
que já passa o tempo meu
de viver sob o teu canto
aquele mesmo sonho teu.
terça-feira, 17 de julho de 2012
Dessa árvore
naquele nosso novo muro
que guarda todo o futuro
do melhor do nosso fim
Plantei um pé de amigo
pra regar de alegria
o trabalho de todo dia
que escolhi pra ter comigo
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Dele
E tem sido bom vê-los tão direitos.
Tem sido adorável a fusão de nossos risos e os motivos que nos levam a eles.
Tem sido delicioso não dormir só pra vigiar teu sono que insiste em me deixar imóvel.
Tem sido lindo fazer charme, falar mole cheio de nhém nhém nhém.
Tem sido válidos os golpes de todas as lutas milenares pra acabar derrotada e enroscada no adversário.
E tem ficado claro que eu perco de propósito.
Tem sido esplêndido dançar com tanta graça e beleza as músicas mais cafonas, e cantar velhos pagodes de olhos fechados.
E tem sido sérias todas as aulas de pandeiro na capinha de DVD, tanto que agora tenho um pandeiro de verdade!
E tem sido bem agradável e bonito ser um peixe.
Uma peixinha.
E o melhor de tudo tem sido morar no seu aquário nos últimos oito meses, recebendo o cuidado de quem eu tenho tanto amor.
Mágico e encantador.
É assim que tem sido.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Do sono ímpar
Minhas pálpebras abertas vigilantes sobre teu sono que guarda o olhar que eu mais gosto de ver.
Em repouso, nos admiro.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Das experimentações de processo I
Havia angústia, dor, medo, escuridão e um pedaço de bolo recém-cortado. Havia um monte de coisas dentro de tudo. Na angústia tinha o vazio, o amargo e uma falta não sei do quê. Na dor sobravam motivos, palavras e ausência. Carregava o medo seus defeitos, insegurança, ansiedade e uma esperança boba. Só a escuridão não carregava nada além dela mesma, porque o pedaço de bolo recém-cortado carregava, além do granulado e da cereja partida ao meio, vontade, desejo, saudade, talvez um pouco de amor e muita fé.
Descia a rua pela calçada do lado direito para que as luzes dos faróis que vinham de frente rebatessem fazendo a sombra aparecer por trás e, por um segundo, assim que o carro passasse ao lado, surgisse na parede. É um jeito de não caminhar só. Vitrines davam uma companhia mais verdadeira, hora várias, hora nuas, hora a mesma. Do lado direito pensava com o bolo conseguir reatar sorrisos e regar um abraço. Mas num dado momento a rua virou-se de costas ou resolver entrar num espelho, e os carros passaram a surgir por trás. Naturalmente que para caminhar lado a lado é necessário atravessar para a outra calçada e passar a pensar com o lado esquerdo, lado esse que mais sente que pensa. Lado que guarda as coisas que carregam outras. Lado que mora o senhor dono de todas as coisas cheias de outras coisas e o merecedor do primeiro pedaço de bolo cuidadosamente cortado de modo que a cereja partida ao meio desse valor ao singelo presente.
Do lado esquerdo reinava a solidão, mas, sobretudo a falta e a desesperada necessidade de voltar derrubando pelas calçadas toda angústia, dor, medo, largando junto com a escuridão todas as coisas que sobrecarregam um viver.
Por isso caminha cautelosamente, sem virar a cabeça para olhar nos olhos de sua companheira sombra que sumiu desde que passou o último carro. Caminha com cuidado para não derrubar o pedaço de bolo recém-cortado. Bolo que carrega um tanto de granulado, uma cereja partida ao meio, um pouco de saudade, muita fé e um tímido e doce amor.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Do dia que podia ter acabado nisso
- Duvida?
- Duvido!
- Que bom! Já eu é difícil saber... Entre tantos os amores que você já teve. Ainda deve ter um monte apaixonado por aí.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Dos ares meus
terça-feira, 8 de março de 2011
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Do dever ao prazer
( Do presente: "AMOR, se eu tivesse SABEDORIA pra dizer apenas três palavras chaves pra você neste momento, com certeza estaria em plena FELICIDADE.")
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
[Da fome dela à minha falta de apetite e o tão esperado diagnóstico]
─ Eu preciso comer, porque meu estômago está numa briga louca aqui.
─ Não discuta com ele, só obedeça.
─ Idem! Ah não! O seu problema é que o seu não reclama, né? É comportado... Será que ele é mudo e a gente não sabe?
─ Olha, eu não nunca tinha pensado nisso! Acho que ele está em depressão... Resolveu se fechar para o mundo.
─ Coitado! E pra ajudar você nem bebe pra deixá-lo elegrinho e se soltar.
─ Ele desistiu de mim.
─ Terapia nele! Ajuda...
─ Se existe “boca do estômago” deve existir “cabeça do estômago”... Vou deitar no divã de bruço.
─ Mas pense: Ele não fala! Tem que fazer a leitura de expressões.
─ Acho que nem se expressar ele sabe.
─ Por outro lado a dona sabe muito bem, até é atriz.
─ Por isso que ele não me pede mais comida, porque ele sabe que eu quero viver de arte... Ele já está sabendo que a comida será pouca.
─ Pode ser! Mas ensina pra ele a língua de sinais, quem sabe ajuda? Ou ainda deixe um caderninho e caneta em vários móveis, aí ele passa e escreve igual o irmão da Miss Sunshine.
─ Ou então vai ver que eu estou precisando de uma paixão daquelas! Quem sabe meu estômago topa se alimentar de borboletas?
─ Verdade!
─ Vou ali me apaixonar e já venho.
(Participação especial de Flávia Macedo, a dos sonhos e ideias criativas).
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
De novo ano novo
Certa de que as convicções imperarão até janeiro que vem deposito ao universo toda minha carga de sonhos e pequenas vontades. Não vou cobrar dele as vontades de médio porte que lhe solicitei há doze meses. Talvez ele não tenha culpa desse delimitado tempo para novas conquistas que costumamos nos submeter.
E nesse nosso próprio limite temos o fácil vício de nos distrair e deixar amornar alguns sonhos e objetivos que só serão relembrados quando o calendário nos forçar a isso. Brinde. Queima de fogos. Respiramos e começamos de novo. De novo. E de novo...
Renovar as energias e se abastecer de novas esperanças somente a cada doze meses me parece um tanto torturante. Empurrar com a barriga até dezembro metas que podiam ser batalhadas para serem vencidas amanhã me soa num tom de covardia e preguiça. Se encher de empenho, boa vontade e fé nos primeiros dias do ano enquanto há possibilidade de renovar as energias a cada mês, semana ou dia.
Meus sonhos são para amanhã e o que não foi conquistado em doze meses continuará sendo trabalhado em lutas incessantes enquanto a eternidade me permitir.
Certa de que as convicções imperarão a cada novo amanhecer deposito ao universo toda minha carga de sonhos e pequenas vontades.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Experimentação de cena para peça Baal II
Prólogo
Palhaços que riem da morte gozando a vida e seus sabores
Equilibristas embriagados domados por adestradores
Aqui bailarinas tropeçam seus sonhos para saciar o insaciável
Matam a sede num gole de tormento boca de gosto intragável
O que vocês verão hoje é sentir da vida na canção e poesia que flutua
Em arquibancadas podres, a lona o céu e suas estrelas nuas
E podem entrar que tem poeta a engolir seus acordes afiados
Cantando a mulher alheia em troca de um corpo afogado
Mas quem aqui nunca quis morrer por estar apaixonado?
E venham ver o amor em suas performances sem pudores
O prazer à luz do dia em suas infinitas cores
Em quem aqui nunca desejou o amor a céu aberto neste circo de horrores?
Mas venham rápido, pois e espetáculo dura um infinito instante
Onde mentiras são vendidas a olhos de verdades distantes
Afinal, quem não desconfiou da mulher barbada disfarçada em corpo de homem amigo-amante?
Neste palco tem desejo selvagem com beijo na ponta do nariz
Tem a razão trocada por aventura e você o que me diz?
Vai dizer que não perderia seu juízo pra viver poeticamente feliz?
E nesse palco tem rosto pintado pra esconder a dor
E nessa dança tem passos errados? Tem sim senhor!
Mas quem aqui não trocaria de papel pra viver esse louco e estranho amor?
Sintam-se a vontade, o espetáculo já começou.
(Para Jéssica Lusia pelo desenterro de tal)