quinta-feira, 8 de abril de 2010

De Ivaiporã

Nunca pensei que um feriado de páscoa me renderia tantas alegrias.
O desconforto de sete horas de viagem me presenteou com um dos mais belos lugares que eu já pude estar. Numa pequena cidade do Paraná encontrei uma parte de mim e deixei outra parte lá.
Encontrei a parte de mim que sobrevive sem internet e celular num lugar onde as belezas naturais bastam como distração.
Encontrei a parte de mim que não reclama em sujar o sapato novo para ir no baile (como eles dizem) em rua de terra molhada, terra vermelha, essas de sujar os pés por dias.
Encontrei a parte de mim que toma leite fervido sem ficar com nojo da nata, talvez porque a nata fresca, doada pela vaca há poucas horas, seja mais saborosa.
Encontrei a parte extra do meu estômago que mostrou uma capacidade de armazenamento jamais conquistadas com os litros de vitaminas para engordar. A parte do estômago que sorria de uma mesa para outra durante o dia todo.
Encontrei as delícias de Dona Cula e Tia Vera, entre bolos, pães caseiros, cucas e biscoitos de polvilho gigantes.
No lugar onde se mata porco e boi para te receber, a vegetariana aqui se contentou com as piadas.
Encontrei minha parte que deita no chão de tanto rir ouvindo causos.
A parte que sai de noite caçar sapo com a sobrinha Paulina, enquanto a lindeza de dois anos de idade arrastava a tia pro meio do mato e essa, de 21, rezava pra não encontrar a caça.
Encontrei a parte de mim que chora com letras de moda de viola. Que quase chora de vergonha quando todos insistem pra cantar também (sozinha não vale).
A parte chorona eu levei comigo, e mostrei discretamente com o pedido de casamento feito pelo meu irmão àquela que se tornou responsável pelo encontro de famílias tão lindas: Rose, minha cunhada querida!
O ciúmes de irmã mais nova eu deixei guardado bem escondido, num lugar que eu não possa ver nem lembrar que ele existe, sim!
Guardei comigo cada pulo na cama elástica com todas as crianças de até trinta anos. Todas as danças e brincadeiras. Cada pessoa e cada sorriso.
Tudo dentro da mala pra trazer de volta e fazer inveja a quem não pode ir.
Deixo lá a parte de mim que não existe na cidade grande e trago comigo a vontade de estar novamente em meio a tanto mato, barro e sotaques.
Volto com os pés vermelhos e com a bagagem repleta de saudades.